A busca encantada de Winnie [01]

por WINNIE HANSEN

Certa vez dei-me conta de que alguém havia separado nossas vidas em anos, meses, semanas e dias para que assim, nos sentíssemos donos de nosso próprio tempo, já que desta maneira poderíamos controlá-lo. Pobre de nós, tão iludidos ficamos, que não percebemos que com cada dia ou hora que contamos ou planejamos, estamos na verdade perdendo a preciosa oportunidade de viver cada instante como único, absolutamente único.
Em um desses dias contados de minha vida comum, bateu-me à porta a oportunidade de conhecer um mundo novo, que seguia leis completamente diferentes daquelas que esse nosso mundo nos apresentava. Todos ali buscavam de alguma forma encontrar algo que não fosse o decadente sistema da vida vigente. Era como se ali pudessemos estar mais perto de uma energia Divina.
Para aqueles que se sentem satisfeitos e plenos, dentro de suas vidas comuns, naturalmente aquele não parece ser um lugar tão especial, porque para estarmos ali se exige algumas renúncias, alguns esforços e algum descontentamento com tudo aquilo que se é, e que se vive.
Aceitar o convite para ser membro daquele mundo tão diferente foi a primeira idéia que me passou pela cabeça, e foi a idéia que levei em frente, talvez por orgulho, talvez por algum outro motivo inexplicável, porque assim como muitos, ou talvez todos os outros que estão e que já estiveram lá, jamais estive à altura de viver tão inusitada experiência.
Tinha 15 anos quando fui morar nesta Fazenda, um centro espiritual no sul de Minas Gerais onde a principal meta é buscar a Vida Monástica e viver únicamente voltado a Deus, deixando de lado todas as expectativas de uma vida normal. É claro que eu não tinha vivido tanto, quinze anos não são nada, se comparados, por exemplo, a idade de nosso planeta. Deixar para trás tudo aquilo que eu havia construido ou estava em vias de construir, não parecia e nem foi fácil, se é que em algum momento eu consegui libertar-me por completo de todo o meu passado.
Em nossas vidas aprendemos a construir nossas bases em frágeis e instáveis terrenos, e nossos castelos são feitos de materiais perecíveis, que não poderão transpor as barreiras da Eternidade. Pobres de nós, tão cegos em nossa visão, que entregamo-nos a uma vida tão pequena e vazia, sem percebermos que tudo não passa de castelos de areia, que quando lançados ao vento desmanchar-se-ão em incontáveis pedaços de sofrida desilusão.
No começo desta nova vida tive medo de desaparecer do mundo que eu conhecia, deixar para trás a familia, a casa, os cães e gatos, os amigos, a carreira que eu planejava e todas as milhares de outras coisas e coisinhas que compunham a minha vida. Engraçado... Para mim aquilo era um passo definitivo, era como se eu fosse estar ali, naquela Fazenda, pra sempre, já não haveria retorno.
Prometi visitas periódicas, prometi manter contatos, prometi que não abandonaria o mundo, dando-me a desculpa de que aqueles de meu convivio sentiriam muito se eu os deixasse completamente, quando na verdade era eu, na minha falta de coragem e de entrega a Deus, que não desejava sentir-me abandonada por tudo aquilo que era a minha base, o meu castelo.
Apesar de já conhecer diversas áreas desta Fazenda, quando cheguei lá para ficar definitivamente, tudo me parecia diferente e novo. Naquele dia meus olhos demoravam-se em cada detalhe daquela vida tão diferente, tão especial. Tudo parecia tão suave, tão delicado e puro, que automaticamente todos os meus movimentos, o tom da minha voz, os meus pensamentos, tudo em mim tornava-se mais leve e sutil.